Parecer apresentado por Affonso de Dornellas à Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses e aprovado em sessão de [20] de [Novembro] de 1934.

Em 29 de Maio de 1930, dirigiu a Câmara Municipal de Carrazeda de Anciães uma carta à Associação dos Arqueólogos Portugueses, dizendo que desejava restabelecer o primitivo e histórico brasão d'armas da antiga vila de Anciães, de modo a usá-lo como lhe cabe de direito, pedindo o parecer desta Associação para que o restabelecimento do brasão de Anciães corresponda à verdade histórica.

Anciães é uma vila tão antiga que, reza a tradição, já tinha foral dado pelo Rei de Leão que foi confirmado por D. Afonso Henriques. Teve depois vários forais até ao de D. Manuel I. Era uma importante vila bem fortificada e com muitos habitantes e até com história conhecida e interessante.

Tem armas conhecidas de longa data, portanto, teve o seu selo e a sua bandeira.

Teve grandes privilégios, adoptou uma divisa curiosa "Anciães leal no Reino de Portugal" e foi cabeça de concelho até que em 6 de Abril de 1734 passou o mesmo concelho a ter a sua sede em Carrazeda. Ficou portanto Anciães, a antiquíssima Vila, com a sua história, o seu castelo, os seus variados forais, as suas armas e enfim tudo quanto lhe pertencia de longa data, mas sem ser considerada sede do concelho.

Existem em Portugal dezenas de povoações denominadas Carrazeda, Carrazede – Carrazedo, além das que têm outro nome adicionado como Carrazedo do Alvão – Carrazedo de Baixo – Carrazedo de Cima – Carrazedo da Ermida – Carrazedo do Monte Negro – Carrazedo da Sabugueira, etc.

Quando em 1734 mudou a sede da Vila de Anciães para a povoação de Carrazeda, passou esta a denominar-se Carrazeda de Anciães.

Carrazeda é povoação muito antiga, parecendo que o seu território foi já habitado por outras civilizações, o que não é para admirar porque regado como é pelos Rios Douro e Tua, além dos ribeiros que lhe cortam os campos, é um território de grande fertilidade.

Quando a sede do concelho foi estabelecida em Carrazeda, continuaram a utilizar na Câmara Municipal, o selo de Anciães, o que é um erro. O selo de Anciães é o símbolo da sua história muito particular que não pode, em circunstância alguma, ser utilizado por outra terra, visto que cada terra tem a sua história e a sua vida.

As armas da Vila de Anciães continuam a caracterizar a história local, portanto, se não tem município para as utilizar como selo, tem certamente a Junta de Freguesia.

Carrazeda não necessita de usar o selo de Anciães, nem deve. Carrazeda tem a sua vida, a sua riqueza natural, os seus valores regionais, enfim, elementos de sobra para poder ordenar as suas armas, a sua bandeira e o seu selo.

Vejamos pois como propomos esta ordenação:

- ARMAS – de prata com um cacho de uvas de púrpura folhado e troncado de verde, acompanhado por dois ramos de oliveira de verde frutados de negro e por quatro espigas de trigo de verde cruzados nos pés. Em contrachefe, três faixas ondadas de azul. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com os dizeres "Vila de Carrazeda de Anciães" a negro.

BANDEIRA – de verde. Cordões e borlas de prata e de verde. Lança e haste douradas.

SELO – circular com as peças das armas sem indicação dos esmaltes e em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres "Câmara Municipal de Carrazeda de Anciães".

Como as peças principais das armas são de verde, a bandeira é desta cor. Para cortejos ou cerimónias é de seda e bordada, tendo a área de um metro quadrado.

O campo é de prata por ser o metal que em heráldica significa humildade e riqueza..

As uvas são de púrpura que significa heraldicamente opulência e abundância.

São de verde o folhado do cacho, os ramos de oliveira e as espigas de trigo. Este esmalte significa esperança e fé. As azeitonas são de negro porque este esmalte simboliza a terra e significa firmeza e honestidade.

Os rios, está estabelecido heraldicamente que se representem por faixas ondadas de azul. Este esmalte em heráldica significa caridade e lealdade.

Fica assim representada a riqueza local não só pelas peças das armas como pelos esmaltes que também caracterizam as qualidades apreciáveis dos seus naturais.

No caso da Câmara Municipal de Carrazeda de Anciães concordar com este parecer, deverá transcrever na acta a descrição das Armas, da bandeira e do selo, enviando em seguida uma cópia autenticada ao Sr. Governador Civil com o pedido de a remeter à Direcção Geral da Administração Política e Civil do Ministério do Interior para, no caso do Sr. Ministro Concordar, ser publicada a respectiva portaria.

Sintra, Agosto de 1934.

Affonso de Dornellas.

(Texto adaptado à grafia actual)

Fonte: Processo do Município de Carrazeda de Ansiães (arquivo digital da AAP, acervo “Fundo Comissão de Heráldica”, código referência PT/AAP/CH/CRZ/UI0008/00074)..