(o município não chegou a adoptar esta
simbologia heráldica)
Parecer apresentado por Affonso de Dornellas
à Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos
Portugueses e aprovado em sessão de 30 de Outubro de 1937.
Satisfazendo ao determinado na circular de 14
de Abril de 1930, expedida pela Direcção Geral da
Administração Política e Civil do Ministério do Interior, a
Câmara Municipal de Viana do Alentejo enviou os elementos
que possuía sobre as armas usadas pelo município para que
fossem regularizados.
Do estudo desses elementos e do que aparece
em algumas obras que tratam de heráldica municipal, vê-se
que a Vila de Viana, como aliás tem sucedido a outros
municípios portugueses, adoptou um selo pessoal que nada tem
com a história da vila.
Esse selo consta de um escudo com um leão
acompanhado lateralmente por dois escudetes carregados cada
um, umas vezes pela cruz de S. Jorge e outras por uma cruz
da Ordem de Cristo, sendo ainda o escudo central, o que tem
o leão, acompanhado em chefe e no pé, por uma estrela
formada por dois triângulos, o que lhe dá seis raios.
Têm sido dadas várias interpretações a este
selo, mas nenhuma que demonstre com factos que o mesmo selo
se relacione com a história de Viana do Alentejo.
Na sessão de 14 de Agosto de 1912, da Secção
de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses, o
Presidente desta Secção, o falecido Major Santos Ferreira,
grande conhecedor de heráldica, disse que as Armas adoptadas
pela Câmara de Viana do Alentejo, nada tenham com a história
local pois eram as Armas de Martim Gil que foi senhor da
Vila.
A história fala-nos de facto dum D. Gil
Martins que no tempo de D. Afonso II, povoou Viana, sendo
avô do 2º Conde de Barcelos, D. Martim Gil de Sousa que foi
alferes mor do Rei D. Diniz.
Foi este Rei que construi o castelo de Viana
e a elevou a vila, dizendo-se também que D. Martim Gil de
Sousa foi senhor da Vila.
As armas dos Sousas, chamados do Prado,
constavam de um Leão.
Mas, o que é mais interessante é que também
no reinado de D. Diniz, quando este rei fundou a Ordem de
Cristo, chamou para primeiro Mestre, o 12º Mestre da Ordem
de Aviz, D. Gil Martins. Seria este Mestre também da Família
Sousa?
O que é facto, é que no selo que tem sido
usado pela Câmara de Viana, aparecem dois escudetes com as
cruzes de Cristo e aparecem duas estrelas que, naturalmente
serão uma má interpretação do Sol e da lua, que aparece em
vários selos e armas, ordenados durante a 1ª dinastia.
Enfim, trata-se, evidentemente, de umas armas
ou de um selo de uma pessoa e não de Viana, não devendo nem
necessitando esta importante Vila de continuar a usurpar uma
simbologia que lhe não pertence e que nada diz da história
local e dos valores regionais.
Viana do Alentejo tem o seu castelo, tem a
sua importante agricultura, é muito fértil e é
principalmente notável pelas organizações que fundou para
órfãos, doentes, pobres e velhos, pois, além da
Misericórdia, com donativos dos seus naturais e por legados,
ali se fundou uma Albergaria; uma Creche (a segunda que
existiu em Portugal); uma escola-oficina, principalmente
para praticamente se ministrar ensino de oficio de oleiro,
forneiro de louça e pintor cerâmico; recolhimento de
mulheres pobres e desvalidas; enfim, a benemerência é um
princípio adoptado pelos Vianenses.
Temos, portanto, muitos elementos
interessantes para organizar as armas, bandeira e selo de
Viana do Alentejo, que propomos sejam ordenados da seguinte
maneira:
ARMAS – De ouro, com um castelo de azul,
aberto e iluminado do campo, acompanhado em orla por quatro
ramos de oliveira de verde, frutados de negro, alternados
com quatro rosas de vermelho abotoadas de ouro e apontadas
de verde. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel
branco com os dizeres “Vila de Viana do Alentejo” de negro.
–
BANDEIRA – Esquartelada de vermelho e de
azul. Cordões e borlas dos mesmos esmaltes. Haste e lança
douradas. –
SELO – Circular, tendo ao centro as peças das
armas sem indicação dos esmaltes. Em volta, dentro de
círculos concêntricos, os dizeres “Câmara Municipal de Viana
do Alentejo”. –
Como os esmaltes principais das peças das
armas são de vermelho e de azul, a bandeira é esquartelada
destas cores. Quando destinada a cortejos e cerimónias, a
bandeira é de seda e bordada e deve ter a área de um metro
quadrado. Quando destinada a arvorar, é de filel e terá as
dimensões julgadas necessárias, podendo neste caso deixar de
incluir a representação das armas.
O ouro indicado para o campo das armas e para
o abotoado das rosas, é o metal que heraldicamente significa
nobreza, fidelidade, constância, poder e liberalidade,
portanto o metal mais apropriado para simbolizar a
fertilidade da região e a tradicional benemerência dos seus
habitantes.
O castelo é de azul porque representando a
força local, o esmalte azul vem indicar que essa força é
principalmente de zelo, lealdade e caridade.
Os ramos de oliveira representando a
fertilidade e riqueza agrícola regional, são das suas cores:
verde que significa esperança e fé, e negro no seu frutado,
esmalte que simbolizando a terra, denota firmeza e
honestidade.
As rosas, representando a benemerência,
símbolo da acção caritativa da Rainha Santa Isabel, são de
vermelho que na heráldica significa a vida, a energia e a
força. O apontado das rosas é de verde, cuja significação é,
como já se disse, esperança e fé.
E assim, com estas peças e estes esmaltes,
fica bem representada a história e riqueza local bem como a
benemerência dos seus naturais.
Se a Câmara Municipal concordar com este
parecer, deverá transcrever na acta a descrição detalhada
das armas, bandeira e selo e enviar ao Sr. Governador Civil
uma cópia autenticada dessa acta, juntamente com os desenhos
rigorosos da bandeira e do selo, pedindo-lhe para remeter
esses elementos à Direcção Geral de Administração Política e
Civil do Ministério do Interior para, no caso do Sr.
Ministro concordar, ser publicada a respectiva portaria.
Sintra, Setembro de 1937.
Affonso de Dornellas.
(Texto adaptado à grafia actual)
Fonte: arquivo da Comissão de Heráldica da
Associação dos Arqueólogos Portugueses. |