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Ordenação heráldica do brasão e bandeira
Segundo o parecer da
Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses de
30/10/1937
Estabelecida pela Comissão Administrativa Municipal em
07/03/1938
Portaria n.º 8968, do Ministério do
Interior,
publicado no Diário do
Governo n.º 77, 1.ª Série de 04/04/1938

Baseado no desenho original de João Ricardo Silva
Bandeira - Quarteada de vermelho e de negro. Cordões e borlas dos mesmos esmaltes.
Transcrição do parecer
Parecer apresentado por Affonso de Dornellas à Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses e aprovado em sessão de 30 de Outubro de 1937.
Pela Secção de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses foi, em sua sessão de 11 de Janeiro de 1928, aprovado um parecer sobre as armas e bandeira da cidade de Beja, parecer que foi baseado nos conhecimentos que foi possível obter sobre as antigas armas da mesma cidade.
Exactamente com as mesmas peças que apareciam em elementos antigos, foi-lhe dada uma melhor arrumação e melhor representação artística.
Nalgumas reproduções já antigas das mesmas armas, a cabeça do toiro aparece por vezes com parte do corpo; o castelo aparece com o aspecto de cidade; as águias parecem umas pombas; as quinas aparecem por vezes com a orla dos castelos; enfim, peças mal desenhadas ou mal representadas heraldicamente, ao sabor de cada mau artista que mexeu no assunto.
A título de curiosidade, vale a pena citar aqui as principais variantes das armas de Beja de que a Comissão de Heráldica tem conhecimento.
Numa visita feita ao Museu de Beja pelo Sr. Dr. Carlos da Silva Lopes, membro desta Comissão, foram encontrados os seguintes elementos:
- Uma lápide com as quinas de Portugal na parte superior e a cabeça de um touro vista de frente na parte inferior acompanhada pela data 1638.
- Outra lápide com as Armas de Portugal antigas, tendo na orla 14 castelos, também na parte superior da lápide e na inferior, um castelo tendo numa grande porta um touro de corpo completo.
- Outra lápide com a indicação de que veio da Capela de Nossa Senhora da Guia, onde está um castelo e à direita as quinas de Portugal. Junta está uma pedra que tem esculpida uma ave passante indefinida.
- Uns paramentos em que estão bordadas umas armas partidas, tendo à direita cinco chagas de Cristo postas em aspa e à esquerda a cabeça de um touro vista de frente, rematada por uma torre torreada, poisando no terrado duas aves afrontadas.
- Nas capas de um livro está uma chapa metálica, talvez do século XVI que tem a cabeça de um touro vista de frente, vendo-se-lhe também de frente o pescoço que está movente do pé do escudo. Esta cabeça está acompanhada por uns ramos. Em chefe, as armas de Portugal acompanhadas por cruzes de Cristo. Na outra capa do livro está uma esfera armilar dentro de um escudo. Foram guarnições antigas aproveitadas numa encadernação posterior.
- Uma bandeja em que estão gravadas as armas nacionais e separadamente uma esfera armilar, uma Cruz de Cristo e uma cabeça de touro, vista de frente.
Alem destes elementos que existem, como se disse, no próprio Museu de Beja, temos ainda:
- O manuscrito n.º 196 da Colecção Pombalina da Biblioteca Nacional de Lisboa, que constitui o volume 29.º de uma colecção que parece ser das que reuniu João Freire de Montarroio Mascarenhas, e que tem por título “Armas das Cidades de Portugal e as razões por que as tomarão” que, sobre Beja, diz: -
Armas são um escudo: na parte direita um castelo, e na esquerda uma cabeça de touro com as armas reais sobre os cornos, cercada de duas águias. O castelo significa a cidade e o touro se tomou por umas de mármore, que nela se acharão do Tempo dos Romanos, cujas cabeças tem postas entrando pela porta de Mértola pera testemunho de sua antiguidade. As águias denotam ser Colónia Romana, e as armas reais ser tomada por El Rei Dom Afonso. -
- Num armorial do “Legado Braancamp Freire” existente em Santarém aparecem as armas de Beja partidas, tendo no primeiro do partido uma torre torreada, acompanhado este torreado por duas águias abertas e no segundo uma cabeça de touro vista de frente na parte inferior do escudo, e as quinas de Portugal na parte superior.
- No Nobiliario de los Reinos y Señorios de España por D. Francisco Piferrer revisado por D. Antonio Rújula y Busel, Tomo VI, Madrid 1860, vem exactamente as mesmas armas acima citadas e existentes no Nobiliário do Legado de Braancamp Freire. O campo das Armas é de verde, a torre torreada de prata. As águias de negro e a cabeça do touro de sua cor.
- Num documento passado pela Câmara Municipal de Beja em 3 de Fevereiro de 1837, em cumprimento do artigo 18 do decreto de 29 de Março de 1834 sobre a Eleição dos Oficiais do Batalhão da Guarda Nacional, pertencente à Companhia de Granadeiros em que foi eleito Capitão, José Penedo de Melo, documento que existe hoje em poder do Sr. Dr. Artur de Brito Penedo, vem um selo branco da Câmara Municipal de Beja que inclui apenas uma torre torreada.
- Na Corografia Portuguesa do Padre António Carvalho da Costa, edições de 1707 e 1868, sobre as armas de Beja diz-se: - na parte direita do escudo sobre um campo ameno uns muros com suas torres a modo de cidade, e no meio numa cabeça de touro, até o pescoço, e sobre os cornos, e cabeça as Armas Reais de Portugal, com uma águia à parte direita, e outra à esquerda.
Enfim, no primeiro parecer, o que foi aprovado em 11 de Janeiro de 1928, já foi citado:
- Rodrigo Mendes Silva, Población General de España, sus trofeos, blasones, etc.. Madrid, 1645.
- Frei Leão de Santo Thomas, Benedictina Lusitana, Coimbra 1651.
- Nobiliarchia Portuguesa de Antonio Villasboas e Sampayo. Citação a edições posteriores à sua morte. 1727 - 1728 - 1754, etc.
- Ignacio de Vilhena Barbosa - As cidades e villas da monarchia portuguesa que tem brasão d'Armas, Lisboa, 1865.
No segundo parecer, no aprovado em 20 de Dezembro de 1935, citaram-se mais:
- Thesouro da Nobreza. Francisco Coelho, 1675.
- Arte de Armaria e Brazões de Cidades e Villas de Portugal – existente na Biblioteca do Porto.
- Sizenando Martyr - Beja sua Patria. –
Pela interferência do Ex.mo Sr. Dr. Francisco Pereira de Castro e Brito, pessoa ilustre que muito se tem dedicado à história de Beja mesmo à história de outras civilizações que por ali existiram anteriormente à fundação da Nacionalidade Portuguesa, foi deliberado, de comum acordo com a Câmara Municipal respectiva, fazer novo parecer com o intuito de incluir um barco na simbologia de Beja.
Foi, portanto, feito um novo parecer aprovado pela Comissão de Heráldica em sua sessão de 20 de Dezembro de 1935.
Os estudos de heráldica de domínio saídos da Associação dos Arqueólogos têm primado sempre por manterem o patriótico critério de que nas armas das cidades e vilas portuguesas deve acima de tudo manifestar-se a vida, acções e circunstâncias notáveis dos valores regionais, tanto históricos como económicos, referentes à dominação portuguesa. Quando historicamente essas cidades ou vilas tenham tido grande importância sob o domínio de outras civilizações anteriores à nossa, assinala-se o facto com uma peça heráldica que simbolize essa civilização. Sucede que nas armas da cidade de Beja já do antecedente figuravam as águias para indicarem a grande importância de Beja do tempo dos Romanos.
A cabeça do touro que sempre acompanhou a história de Beja e de que ainda existem alguns exemplares esculpidos em pedra na mesma cidade, é uma peça heráldica que simboliza a força, a agricultura, a paciência, enfim, é um emblema que em várias civilizações tem tido o mesmo significado.
Depois de Beja estar sob o domínio português, a cabeça do touro simboliza a agricultura regional, salientando a sua importância.
Está muito bem.
O facto de existirem ainda em Beja muitos exemplares da cabeça do touro, não indica talvez mais do que o espírito dos seus naturais indicando que são conservadores e respeitam os objectos que manifestam arte.
Na Península foi muito vulgar o emprego de cabeças de touro esculpidas em pedra e colocadas nas frentes das residências como símbolo de trabalho e da paciência.
Em pedra, em barro, em cobre, prata e ouro, tem aparecido em vários pontos da península, cabeças de touro e touros de corpo inteiro. Naturalmente é devido ao aparecimento destas peças arqueológicas que existem na Península umas duas dezenas de povoações com o nome de Touro. Em Portugal conheço, pelo menos um rio com este nome, no distrito de Viseu, um lugar e freguesia no concelho de Sabugal e outro lugar e freguesia do concelho de Fráguas.
Com referência ao barco, no tempo dos Romanos, simbolizava o comércio, sendo bem conhecido tal emblema, servindo com qualquer diferença, de selo às cidades e vilas que, sendo portos de mar, se dedicavam ao comércio marítimo.
Nas moedas romanas, por exemplo, existe fartura de barcos e cabeças de touros, vistos de frente sem a representação do pescoço e até com as hastes em forma de lira, exactamente como foi incluída no desenho que acompanhou o parecer das armas de Beja de 11 de Janeiro de 1928.
É natural que em esculturas de pedra as hastes do boi sejam curtas, de forma a dificultar a sua fractura, se bem que haja variantes nas raças de touros que têm de facto as hastes curtas.
Na mitologia do Egipto o touro era considerado como a encarnação da divindade, chamando-se Pacis ou Bacis em grego.
Quem sabe até se no nome de Pax Julia, antiga designação de Beja, haverá algum contacto com o Pacis ou Bacis com que os Gregos designavam o Toro.
Enfim, a Comissão de Heráldica, quando estudou o 2.º parecer e o aprovou em 20 de Dezembro de 1935, lembrou a hipótese de nas torres do castelo ser colocada a cabeça do touro e o barco por este último emblema não dar uma base de referência à vida de Beja depois da denominação portuguesa e de facto, para marcar bem a importância de Beja no tempo dos romanos, só as águias o poderiam fazer dentro dos princípios da heráldica correcta.
Chegou a mesma Comissão à conclusão de que não devia apoiar a ideia de que em pleno campo das armas figurasse um navio, visto que a sua representação era referente a uma civilização anterior à nossa e, então, foi com esse barco carregar uma das torres, carregando a outra com a cabeça de touro, tal como existiram de facto nas muralhas da cidade, restando ainda saber se as muralhas onde se encontravam estas esculturas, não serão muito posteriores à execução das mesmas.
Foi o mesmo parecer, o 2.º remetido à Câmara Municipal de Beja, apresentado pela mesma Câmara ao Sr. Dr. Castro e Brito que não concordou, fazendo sobre o caso uma exposição que veio às mãos da Comissão que minuciosamente a apreciou.
Esta Comissão não se propõe discutir a referida exposição mas cita simplesmente o facto de S. Ex.ª ser de opinião que a cabeça do touro ocupasse novamente o centro do escudo como peça de capital importância.
A Câmara Municipal concordou com essa opinião e a Comissão de Heráldica, pelo que acima expôs, também concorda pois julga que o seu primeiro parecer, o de 11 de Janeiro de 1928, era de facto o mais simbólico.
O Ministério do Interior, pela sua Direcção Geral de Administração Política e Civil, expediu em 14 de Abril de 1930 uma circular aos Srs. Governadores Civis, indicando as regras da Heráldica de Domínio.
Desde essa data, a Associação dos Arqueólogos cingiu-se a essas deliberações e por elas tem aconselhado os Municípios a entrarem na normalidade heráldica.
Para as armas de Beja temos de citar alguns pontos importantes dessas regras.
No n.º 4 das mesmas, diz-se que devem as armas de domínio apresentar sempre um aspecto absolutamente simétrico e regular, atendendo-se na sua composição à verdade histórica e à melhor estética, sendo as peças simbólicas que as compuserem, estilizadas em conformidade com a melhor arte heráldica.
No n.º 5 diz-se: o escudo nacional com a orla dos castelos ou ainda o emblema nacional como actualmente é usado pelo Estado, não pode, em caso algum, ser incluído na simbologia municipal. Em casos de alta razão histórica, poderá adoptar-se na composição das armas de domínio municipal, o escudete das quinas, só as quinas, ou estas em diferente posição e número.
O 2.º considerando da mesma circular diz claramente – que a boa ordenação das armas de domínio, salienta os factos históricos, as circunstâncias artísticas e as razões de riqueza local, dando assim existência a uma heráldica verdadeiramente popular que no conjunto dá vida a uma detalhada história do território e da civilização da nacionalidade. -
Deliberou há muito a Comissão de Heráldica que nas armas locais, que tivessem tido importância no tempo dos romanos, se incluísse na sua composição uma águia, ou duas quando a simetria o exigisse.
Em face do exposto e seguindo as regras de heráldica estabelecidas pelo Ministério do Interior, julga a Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses que as Armas, bandeira e selo da cidade de Beja devem ser constituídos pela seguinte forma:
ARMAS – De ouro com uma cabeça de touro de negro realçado de prata, visto de frente. Em chefe, as quinas antigas de Portugal de azul carregadas por cinco besantes de prata em aspa. AS quinas e a cabeça do touro acompanhadas por duas águias estendidas de negro. Em contrachefe, um castelo de vermelho, aberto e iluminado de prata. Coroa mural de prata de cinco torres. Listel branco com os dizeres “Cidade de Beja”. -
BANDEIRA – Quarteada de vermelho e de negro. Cordões e borlas dos mesmos esmaltes. Haste e lança douradas.
SELO – Circular, tendo ao centro as peças das armas sem indicação dos esmaltes. Em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres “Câmara Municipal de Beja”.
Como as peças principais referentes à história de Beja, são a cabeça do touro que é de negro e o castelo quo é de vermelho, a bandeira é destes esmaltes.
Quando destinada a cortejos e outras cerimónias a bandeira é de seda e bordada e terá a área de um metro quadrado.
Quando destinada a ser arvorada, é de filel, podendo deixar de as armas.
A cabeça do touro, representativa da riqueza agrícola e as águias representativas da importância de Beja no tempo da dominação romana, são de negro, esmalte que simboliza a terra e significa firmeza, honestidade e cortesia.
O vermelho que esmalta o castelo, significa força, vida e vitórias.
A prata que abre e ilumina o castelo, denota eloquência, limpeza humildade e riqueza.
O ouro do campo das armas em que assentam estas peças, significa nobreza, fé, sabedoria, fidelidade, constância, poder e liberalidade.
As quinas de Portugal são dos esmaltes próprios, azul, que heraldicamente significa zelo, lealdade e caridade, e prata, de que já acima se deu a respectiva significação.
Assim, as armas de Beja salientam os valores locais e a índole dos seus naturais.
Se a Câmara Municipal concordar com este parecer, deverá transcrever na respectiva acta a descrição das armas, bandeira e selo tal como aqui estão descritas, e enviar uma cópia autêntica ao Sr. Governador Civil, juntamente com os desenhos rigorosos da bandeira e do selo, pedindo-lhe para remeter esses elementos à Direcção Geral de Administração Política e Civil do Ministério do Interior, para, no caso do Sr. Ministro concordar, ser publicada a respectiva portaria.
Lisboa, Agosto de 1937.
Affonso de Dornellas.
Fonte: arquivo da Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses.
Segunda proposta de ordenação heráldica do brasão e bandeira
Segundo o parecer da
Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses de
20/02/1935
Não adoptada pelo município

Bandeira - Quarteada de vermelho e de negro. Cordões e borlas dos mesmos esmaltes.*

Bandeira (2x3) Estandarte (1X1)
* Fonte - Acta n.º 12 - Livro de actas das reuniões da Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses - 1933-1937 - Arquivo da Associação dos Arqueólogos Portugueses
Primeira proposta de ordenação heráldica do brasão e bandeira
Segundo o parecer da
Secção de Heráldica e Genealogia da Associação dos Arqueólogos
Portugueses de 11/01/1928
Não adoptada pelo município

Baseado no desenho original de António Lima
Bandeira - Quarteada de vermelho e de negro por serem as cores das peças principais das Armas. Por debaixo das Armas, uma fita branca com os dizeres “Cidade de Beja” de negro. Cordões e borlas de vermelho e negro. Cordões e borlas de vermelho e de negro. Haste de lança de ouro.

Bandeira (2x3) Estandarte (1X1)

Transcrição do parecer
Parecer apresentado por Affonso de Dornellas à Secção de Heráldica e Genealogia da Associação dos Arqueólogos Portugueses e aprovado em sessão de 11 de Janeiro de 1928
A cidade de Beja, desejando saber como devem ser ordenadas as suas armas; que tão mal tratadas tem sido, dirigiu à Associação dos Arqueólogos o seguinte ofício;
Câmara Municipal do Concelho de Beja. N.º 502. – Ex.mo Sr. Presidente da Direcção da Associação dos Arqueólogos Portugueses. Lisboa - Possuiu em tempos esta Câmara um estandarte que, em 1835, foi substituído por outro com as cores constitucionais e que está a carecer de reforma. Desejava esta Câmara substituir o aludido estandarte e queria restabelecer o antigo e primitivo estandarte do Município: mas, por mais diligências e pesquisas que tenha feito não lhe foi ainda possível encontrar quaisquer esclarecimentos sobre a cor e emblemas que o caracterizavam. - Possuindo V. Ex.ª porventura, quaisquer elementos que nos possam fornecer sobre o assunto? - Era favor que esta Comissão muito agradeceria, se V. Ex.ª pudesse auxiliá-la na satisfação dos seus desejos. Queira V. Ex.ª aceitar os protestos minha alta consideração. - Saúde e Fraternidade - Paços do Concelho de Beja, 23 de Outubro de 1926. - O Vogal servindo de Presidente da Comissão Administrativa (a) António Neves Graça.
Seria interessante descobrir um antigo selo de Beja para se ver como seriam ordenadas as figuras que o compõem.
Não houve certamente na antiguidade qualquer instituição ou método que ordenasse as Armas de domínio, mas houve com certeza um instinto heráldico que se pode considerar célebre.
As armas antigas de domínio, reprodução dos respectivos selos, são sempre compostas por uma forma tão criteriosa que parece que havia uma norma estabelecida e adoptada pelos municípios.
Todos aqueles povoados que conseguiram trazer até à actualidade as suas armas ou vestígios delas, demonstram o bom senso que houve na sua admirável organização e na forma distinta como representavam a história, a vida e as circunstâncias que caracterizavam os respectivos povoados
Beja conserva vestígios das suas armas e portanto do seu selo e do seu estandarte, não conseguindo porém, que me conste, conservar um exemplar, cópia ou reprodução do referido selo.
Perdeu-se tudo e houve uma temporada que se passou sem o selo e até sem o estandarte.
Um dia quis-se restaurar o selo e então por informação, por tradição ou por ter ficado descrito em qualquer sítio, desenhou-se o selo com aquelas peças que constava terem existido no antigo.
Foi isto evidentemente numa época em que já não existia instinto heráldico, nem conhecimento do que fossem as respectivas regras.
Quem estuda heráldica encontra constantemente flagrantes exemplos do que tem sido há uns três séculos para cá, a confusão desta ciência organizada pela mais completa ignorância.
Nos diferentes sítios cm que, desde o século XVII para cá, se descrevem as armas de Beja, há referências à cabeça de um touro, a um castelo, às quinas nacionais e a duas águias. Uns substituem as quinas pelas armas completas e outros não ralam nas águias.
Vejamos as duas principais autoridades dos Séculos XVII e XVIII.
Rodrigo Mendes da Silva na sua obra «Población General de España sus trofeos, blasones etc. Madrid. 1645», diz que as armas de Beja constam de um castelo à direita e à esquerda uma cabeça de touro tendo sobre as hastes o escudete das quinas.
Frei Lello de Santo Thomas, lente de Prima da Universidade de Coimbra, na sua obra «Benedictlna Lusitana», no final do tomo 2.º Coimbra. 1651 diz: - As armas da cidade de Beja são estas à parte do escudo fica hũ canto sobre hum campo ameno, hũs muros com torres que parecem Cidade, no meyo hũa cabeça de touro até o pescoço, e sobre as pontas, e cabeça as armas Reays com hũa aguia á mão direita. e outra á mão esquerda.
Vlllasboas e Sampayo, Desembargador da Relação do Porto, na sua obra «Nobiliarchia Portuguesa, tratado de nobresa hereditaria e politica, Lisboa-1676», não faz referência ás armas das cidades. Morreu este autor em 1701, publicando-se depois da sua morte mais quatro edições. A de 1708 de Felipe de Sousa Villela, também não se refere às armas das Cidades, - mas as edições de 1727 e 1728, já trazem as armas das Cidades. De Beja diz: - Têm por armas hum escudo posto hum canto delle sobre hum campo ameno huns muros com torres a modo de cidade, e no meyo hũa cabeça de touro até o pescoço, e sobre as pontas. e cabeça as armas Reaes com hũa aguia á mão direita, e outra á mão esquerda.
A quinta e última edição Impressa em 1751 correcta, emendada e aumentada por Manuel António Monteiro de Campos, copia exactamente a descrição acima.
Desde Frei Leão de Santo Thomas citado, que a descrição é muito confusa e tão confusa, que ainda hoje, só com muito boa vontade se pode compreender o que Fr. Leão quis dizer.
Os editores da «Nobiliarchia Portuguesa» também não compreenderam e limitam-se a copiar, razão porque se tem mantido a confusão.
Vejamos agora o que nos diz lgnacio de Vilhena Barbosa na sua obra «As Cidades e Villas da Monarchia Portuguesa que teem brasão d'armas». Lisboa. 1865.
Descreve assim as armas de Beja: -
«escudo com uns muros torreados á parte direita, e á esquerda uma cabeça de toiro até ao pescoço sustentando as armas reais de Portugal, com uma aguia de cada lado».
Os estudiosos dos séculos XVII e XVIII acima citados disseram que as quinas ou as armas reais ficavam, nas armas de Beja, sobre a cabeça de boi. Este sobre foi tomado no sentido de: para cima de - além de - em seguida a etc., tudo menos junto a.
Em heráldica se se quisesse explicar que o escudete das quinas era pegado ás hastes do boi teria de se dizer que a cabeça do boi era rematada pelo escudete das quinas ou que era uma cabeça de boi sustentando o mesmo escudete.
A posição do escudete nas armas de Beja está, heraldicamente falando, encimando a cabeça de boi.
Isto é para melhor explicar a posição que nas armas pode tomar o escudete desde que a descrição não seja rigorosamente feita.
Vilhena Barbosa é que, querendo transportar para linguagem heráldica o que disseram os estudiosos acima citados, transtornou o assunto por completo, pois disse que as cabeças do boi sustém as armas reais.
Vilhena Barbosa com certeza não conhecia bem a significação heráldica da palavra suster, pois que o desenho que apresenta das armas de Beja, não condiz com a descrição que faz. As armas reais estão encimando a cabeça do boi.
A Colecção de Cartões das Armas das Cidades e Vilas publicada no século passado é que nos apresenta a cabeça do boi rematada pelas armas reais.
Enfim, uma enorme confusão que tentaremos agora por a direito.
Vejamos os motivos porque existem as diferentes peças nas Armas de Beja. As águias indicam a grande importância que Beja teve no tempo dos Romanos. O Castelo indica-nos que foi Beja uma praça forte. Como nesta região a riqueza local provém principalmente da grande quantidade de gado e dos cereais, a cabeça do touro que aparece nas Armas de Beja é certamente para nos indicar essa riqueza. As quinas são para representar o facto histórico de Beja nunca ter pertencido a particulares. A sua posse ficou sempre reservada para a Coroa e foram os Reis, principalmente da primeira dinastia, que lhe deram forais, que construíram as suas fortalezas, que, enfim, a engrandeceram.
Vejamos agora como heraldicamente devem ser arrumadas as peças indicativas da história de Beja e quais os esmaltes que devem empregar-se.
- De ouro com um castelo de vermelho encimado por uma cabeça de touro de negro. Em chefe as quinas antigas de Portugal acompanhadas por duas águias estendidas de negro. Coroa mural de cinco torres de prata. Bandeira quarteada de vermelho e de negro por serem as cores das peças principais das Armas. Por debaixo das Armas, uma fita branca com letras pretas. Cordões e borlas de vermelho e de negro. Haste e lança d'ouro.
O ouro que indico para o campo, representa a nobreza e o poder; o vermelho do castelo indica que esta fortaleza sofreu guerras e teve vitórias; o negro que indico para a cabeça do touro, corresponde à terra e esta peça heráldica representa nesta Armas o valor do território de Beja; as águias também as indico de negro por este esmalte representar firmeza e obediência. As quinas indico-as sem o escudete, visto que o campo é de metal.
Nas composições das armas de domínio só num caso absolutamente excepcional é que se devem incluir as Armas inteiras de Portugal.
[Affonso de Dornellas.]
(Texto adaptado à grafia actual)
Fonte: DORNELLAS, Affonso de, «Beja», in Elucidário Nobiliarchico: Revista de História e de Arte, II Volume, Número VII, Lisboa, Junho 1929, pp. 175-177.
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