[Parecer apresentado por Affonso de Dornellas à Comissão de Heráldica da
Associação dos Arqueólogos Portugueses e aprovado em sessão de 20 de
Dezembro de 1935.]
A Câmara Municipal de
Almeirim, solicitou à Direcção Geral de Administração Política e Civil
do Ministério do Interior, que lhe fossem estudadas as suas armas,
bandeira e selo.
Em qualquer das obras
antigas que se referem a armas de domínio, não encontro elementos sobre
esta terra.
Foi Almeirim um
escolhido sítio para caçadas e divertimentos dos Reis da Corte e de
pessoas de bom gosto, que ali passavam parte do ano.
D. João I iniciou ali
a construção de residência própria para si e para os seus. D. Manuel I
construiu ali um castelo de que a História não reza, mas reza sim, e é
bom que não esqueça, que ali passava a notável via militar romana que
partindo de Lisboa, seguia para Mérida, capital da Lusitânia.
Dividiram os romanos
a Lusitânia e quatro grandes distritos, havendo em Portugal três
capitais desses distritos: Lisboa, Santarém e Braga. Será, portanto
curioso que, nas armas de Almeirim, figure a memorável águia dos romanos
que saindo da notável cidade romana que era Santarém, passavam por
aquela região a caminho de Mérida.
Foi em Almeirim que
D. Sebastião recebeu a seta, relíquia do mártir S. Sebastião, que lhe
ofereceu o Papa Gregório XIII, o que deu motivo a grandiosos festejos e
até a colocarem a representação das Armas Nacionais com que embelezavam
a frente do edifício dos Paços do Concelho.
Portanto os naturais
de Almeirim recordam o facto que deixou fama. Por isso, achamos
interessante que nas armas de Almeirim figure uma quina das Armas
Nacionais por ter sido feita por um rei, a fundação da vila, para
descanso e divertimento de Reis; que figure a seta; que figure uma águia
representativa da notável estrada romana que cortou aquelas regiões; que
figurem trompas de caça, recordando a razão do desenvolvimento regional;
que figure a representação do Rio Alpiarça que banha os seus campos; e
que figurem cachos de uvas, representando a grande riqueza local.
E assim, proponho que
as armas, bandeira e selo de Almeirim, sejam ordenados pela seguinte
forma:
ARMAS – Partidas de
uma pala de negro e duas de oiro, sendo a de negro carregada por uma
águia aberta de oiro de voo abatido, acompanhada em chefe por uma seta
de oiro carregada por uma quina de Portugal e, em contra-chefe, por três
faixas onduladas duas de prata e uma de azul. As palas de oiro são
carregadas cada uma por uma trompa de caça de vermelho, forrada de
negro, acompanhada em chefe e contra-chefe, por cachos de uvas de
púrpura folhados e sustidos de verde. Coroa mural de prata de quatro
torres e listel branco com os dizeres “Vila de Almeirim” de negro.
BANDEIRA – De
púrpura, cordões e borlas de ouro e de púrpura. Haste e lança douradas.
SELO – Circular,
tendo ao centro as peças das armas sem indicação dos esmaltes e em
volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres “Câmara Municipal de
Almeirim”.
Como a principal
riqueza local é o vinho e como este é representado de púrpura, a
bandeira é desta cor. Quando destinada a cortejos e outras cerimónias, a
bandeira tem a área de um metro quadrado e é bordada em seda.
Quando é para
arvorar, é de filel, com as dimensões que forem julgadas convenientes,
podendo neste caso dispensar as armas.
O campo das armas, a
águia e a seta, são de ouro, metal que na heráldica significa nobreza,
fidelidade, constância e poder.
[De negro] É também o
campo das armas, assim como o forrado das trompas, esmalte que simboliza
a terra e denota firmeza, honestidade e cortesia.
As trompas são de
vermelho que significa força, audácia, vida e alegria.
Os rios, está
determinado que se representem por faixas ondadas de prata e azul. A
prata significa humildade e riqueza. O azul, zelo, caridade e lealdade.
A púrpura das uvas, é
o esmalte que significa abundância, riqueza e grandeza. O verde do
folhado e sustido dos cachos, denota fé e esperança.
E assim com estas
peças e estes esmaltes, fica bem representada a história e fertilidade
locais e a índole dos naturais.
[Affonso
de Dornellas.]
(Texto adaptado à
grafia actual)
Fonte: CLAÚDIO,
António Nunes do Carmo, Brasões da Vila de Almeirim (Cadernos
Culturais), Câmara Municipal de Almeirim, 1989. |