Parecer apresentado por Affonso de Dornellas à Secção de Heráldica da
Associação dos Arqueólogos Portugueses em sessão de 12 de Junho de 1928.
Na Associação dos
Arqueólogos foi recebido o seguinte ofício:
– Câmara Municipal
de Aljustrel. Comissão Administrativa – n.º 9 – Ao Ex.mo Sr. Affonso
Dornellas, Dig.mo Presidente da Comissão de Heráldica, Museu do Carmo,
Lisboa – Foi Aljustrel conquistado aos mouros por D. Sancho II. É esta
vila uma das mais antigas do sul do País. Vide o foral concedido por D.
Sancho II. Certamente teve brasão mas nas lutas politicas dos liberais
com os miguelistas, dizem as criaturas antigas, foi pasto das chamas as
repartições públicas deste Concelho. Desapareceram, portanto, os
indícios de qualquer brasão existente e até hoje não foi possível
constituí-lo. Concelhos que foram criados à custa do termo de Aljustrel
como Castro Verde, Ourique e Odemira, têm brasão. Não se compreende,
pois, que Aljustrel o não tenha. Por este motivo vem a Comissão
Administrativa desta Câmara solicitar de V. Ex.ª a fineza de a informar
se será possível, pela Comissão de Heráldica de que V. Ex.ª é mui digno
Presidente, constituir o antigo brasão de Aljustrel ou constituir um que
corresponda à sua situação histórica. – Agradecendo, desejo a V. Ex.ª
Saúde e Fraternidade. – Aljustrel, 7 de Janeiro de 1927. – 0 Presidente
(a) J. Silva Alvares.
Nas obras que tratam
de Heráldica de domínio não há qualquer referência a Aljustrel.
A Câmara Municipal de
Lisboa pensou em tempos em organizar uma obra com a Heráldica referente
às Cidades e Vilas Portuguesas, pelo que expediu uma circular a todas as
Câmaras. No Arquivo da mesma Municipalidade existe o processo. Vejamos
pois o que há sobre esta Vila:
Aljustrel – Il.mo
e Ex.mo Sr. – Em resposta ao ofício de V. Ex.ª de 25 de Setembro próximo
findo, tenho a honra de declarar a Vossa Ex.ª que esta Câmara Municipal
de Aljustrel, não usa hoje Brasão d’Armas algum, e se em algum tempo o
usou não consta, pois, que revendo-se os restos d’alguns Livros, que
ainda existem no Arquivo, digo restos, porque em 1833 foram destruídos
por uma Guerrilha Miguelista todos os Cartórios das diversas repartições
desta Vila, não se encontrou declaração alguma por onde se conhecesse
qual o Brasão de que usou e sua história; é quanto sobre semelhante
objecto posso dizer a V. Ex.ª, tendo a honra de me assignar de V. Ex.ª
Mt.º Att.º Vnr. – Aljustrel 30 de Outubro de 1855. – (a) Francisco de
Paula lnglez; Presidente da Câmara. –
Temos portanto que
ver a história local para podermos satisfazer o desejo manifestado no
ofício acima.
D. Sancho II em 1235
tomou o Castelo de Aljustrel aos Mouros que imediatamente deu à Ordem de
S. Tiago, sendo esta doação confirmada por D. Afonso III em 1255.
O Rei D. Manuel I
deu-lhe foral novo em Santarém a 20 de Setembro de 1510.
Tem Aljustrel águas
minerais que brotam em vários pontos da grande mina que ali existe.
Tanto as águas como a
mina, foram exploradas por civilizações anteriores à nossa.
De muito longe veio
sempre gente e gado banhar-se naquelas águas que sempre produziram
grandes curas.
Hoje encontra-se
Aljustrel muito desenvolvida devido a estas riquezas naturais.
Vamos pois, em
presença destes factos, dar a nossa opinião sobre a constituição das
respectivas armas:
De negro com uma
fonte de ouro repuxando de prata. Em chefe um crescente de ouro
acompanhado de duas cruzes de Santiago de púrpura perfiladas de ouro.
Coroa mural de prata de quatro torres.
Bandeira esquartelada
de púrpura e branco. Fita branca com letras pretas. Cordões e borlas de
púrpura e prata. Haste e lança de ouro.
O negro do campo
representa a terra, donde vem toda a vida de Aljustrel. A fonte de ouro
e água de prata representam a riqueza proveniente das importantes minas.
O crescente e as cruzes de Santiago, são referencias à história da Vila
que da posse dos Mouros passou para a Ordem Militar de Santiago.
[Affonso de Dornellas.]
(Texto adaptado à
grafia actual)
Fonte: DORNELLAS,
Affonso de, «Aljustrel», in Elucidário Nobiliarchico:
Revista de História e de Arte, II Volume,
Número X, Lisboa, Outubro de 1929 (Agosto de 1930), pp. 305-306. |